Em sua edição de estreia, a Revista Oblíqua debruça-se sobre os NOVOS TEMPOS.
Se você acha que a expressão novos tempos diz respeito ao anúncio de um novo contexto político, cultural e social, não deixa de ter alguma razão. Afinal, parece que estamos, de fato, entrando em uma esperançosa paisagem macropolítica nacional – e, definitivamente, as promessas advindas dessas mudanças compõem o nosso imaginário do que há por vir. No entanto, para além dos anúncios que caracterizam esse contexto, é fundamental que também sejam criticamente analisadas as enunciações de novos tempos que nem sempre são notados.
Enquanto enunciados, isto é, enquanto estágios do pensamento que antecedem a organização da linguagem consciente, os novos tempos retratados nesta edição são aqueles que modelam e guiam nossa percepção no mundo. São os novos tempos do corpo e do ambiente: da relação do corpo com os novos tempos do mundo e de como o mundo atual cria novos tempos no corpo. Ainda que não estejamos conscientes, nosso comportamento tem se transformado significativamente nas últimas décadas, sobretudo em decorrência das modulações trazidas pelas novas tecnologias.
O aumento de horas em frente às telas, a plataformização cultural através dos streamings e a algoritmização de interesses são alguns dos fatores que têm criado novos tempos e provocado alterações significativas em nossos modos de apreender o mundo.
São esses os problemas abordados nos textos desta edição.
Ao passo que os artigos Massagens no olho que tudo vê: o que se aprende quando tudo se apreende? e Diante da obra de arte discutem como esses novos hábitos alteraram nossas experiências nas relações com as obras de arte, o ensaio No fundo da farsa, encontramos algo? parte de uma imagem colhida do cotidiano para pensar a importância da imaginação em um mundo que mergulha cada vez mais em uma apatia. Por fim, a crônica de arte O outro discurso inaugural presta uma homenagem a Mário de Andrade, na tentativa de combater essa mesma apatia que permeia os discursos sobre as artes.